
HISTÓRIAS DE LUANA
I – Os sonhos de Luana
AUTORA: Prescila Alves Pereira Francioli
Contadora, escritora, palestrante, bacharel em Direito, bacharel em matemática e especialista em educação matemática.
Luana, uma garotinha de oito anos de idade, morava no Sítio Paz, no patrimônio de Santa Lúcia, município de Campo Mourão/PR. Possuía características físicas: pelo de cor morena clara, cabelos lisos pretos, olhos castanhos amendoados e imensamente misteriosos, espírito alegre e versátil.
Luana estudava em uma escolinha a uma distância de aproximadamente dois quilômetros de sua moradia. Ia a pé toda a manhã, fizesse sol, chuva, calor ou frio, não importava. Sua família de condições econômicas humilde. Seu pai, que a amava muito, levantava todas as manhãs para preparar o café com pipoca caipira salgada, ou fritar bolinhos de chuva, ou ainda, fazer uma farofa de ovos caipira. Tudo retirado da terra vermelha da propriedade onde moravam. Feito o café, chamava Luana pra ir tomar e se vestir pra pegar a estrada. Feito isso, Luana pegava sua mochila com o material escolar, e ainda escuro, sem medo de nada, subia o morro, passando por meio do milharal, que deixava suas vestes toda molhada, em virtude do orvalho. Mas o fato das roupas ficarem molhadas, não lhe incomodavam. O que Luana queria, era aprender tanto quanto fosse possível. Ao término da aula, ela, sua amiga Luciene e seu amiguinho Jaime, pelo qual Luana suspirava, retornavam pra casa cantarolando e brincando de pega-pega.
Ao chegar em casa, saborear as costeletas de porco com mandioca e virado de couve, Luana arrumava a cozinha pra sua mãe. Terminado suas tarefas domésticas, a menina Luana pegava um livro e ia pro pasto sentar-se a sombra de sua amiga árvore preferida, amiga essa com quem ela falava normalmente sobre seus sonhos e juntas admiravam o rio que passava logo abaixo. Luana confidenciava pra sua amiga árvore, que logo, logo ela iria embora, não porque não gostasse do lugar, ao contrário, ela amava aquele lugar. Ela iria embora, pra estudar muito e tornar-se uma grande escritora, uma grande atriz e se desse, uma estilista famosa. Retornava seus misteriosos olhos para o livro e folheava-o até a biografia do autor, e dizia: amiga árvore, um dia alguém irá ler a minha biografia em um livro que eu tenha escrito, eu te prometo. Em sua cabecinha de menina sonhadora, acreditava ela, que a amiga árvore lhe respondia: eu acredito em você.
Após essa confidência, estendia seus misteriosos olhos para o infinito, imaginando o dia em que poderia descobrir os mistérios que estavam fora daquele lugar que lhe era tão querido. Deitava sob a sombra, e suspirando, voltava a ler.
Aos dez anos, Luana foi embora a busca de melhor escola. Estudou muito, terminou com honra o primário, o ensino fundamental e sonhava em fazer artes cênicas. Durante o segundo grau, participava de um grupo de teatro do município de Campo Mourão, sempre conseguia os melhores papéis. O público que assistia às peças ficavam vidrados com sua interpretação e aplaudiam em pé. Os rapazes se apaixonavam pela voz doce, a maestria e forma contagiosa com que representava, mandavam flores e lhe assediavam, todos sonhando em tê-la como namorada. As moças sonhavam em parecer-se com ela. Não possuía beleza extraordinária, mas seu magnetismo, sua doçura e olhar misterioso eram incontestáveis. Outros se condoíam de inveja e perguntavam a si mesmos: o que há nessa garota que embebeda à todos que a vêem representando. Nas entrevistas de rádio, o locutor parecia ver apenas ela, e a ela fazia quase todas as perguntas. Ninguém sabia explicar o que havia naquela garota.
Os dias passavam, e onde ela ia apresentar-se, era a mesma coisa, magnetismo de todos os que a assistiam. Terminado o segundo grau, Luana tinha que prestar vestibular, e fez de tudo pra conseguir ingressar no curso de artes cênicas. O curso era em Curitiba, e seus pais não tinham condições de mantê-la lá. Tentou conseguir bolsa, mas seus esforços foram em vão. Com os olhos tristes e emaranhados em lágrimas, foi até a única faculdade que tinha em Campo Mourão, pra se inscrever no vestibular. Perguntou pra moça que estava atendendo: qual o curso mais concorrido? A atendente respondeu: Ciências Contábeis. A resposta veio em prontamente: então é nesse que vou me inscrever.
Na data da prova, levantou cedo e de cabeça erguida, atitude decidida, foi fazer a mesma. Passou com ótima colocação. Cursou os cinco anos e tornou-se executiva da contabilidade. Seu sonho de ser atriz, esse ficou sufocado dentro do peito, o mundo perdeu a melhor atriz que poderia vir a nascer. Uma atriz de alma e coração. Uma atriz com dom natural, aquele dado por Deus ao nascer, que todos recebem algum dom ao nascer.
O sonho de ser estilista, ela realizou em parte, cursou o curso técnico de produção de moda, trabalhou em algumas indústrias criando coleções, escreveu colunas em jornais sobre moda, e depois deixou esse sonho de lado, pois o mercado da moda é estafante e extremamente concorrido e se cansou disso.
Mas o sonho de ser escritora permanecia vivo. Começou a escrever, e escreveu um livro de poemas, o qual não publicou. Escreveu um livro de contos, e tentava de todas as formas editá-lo através das editoras desse Brasil afora. Decepcionada, descobriu que no Brasil, editar um livro custa muito caro, não é como na Europa, que os escritores são pagos para escrever. Assim, continuou sonhando, até que conseguiu a aprovação de uma Editora do Rio de Janeiro e conseguiu publicar sua primeira obra. O lançamento foi um sucesso, muitas entrevistas, muitas palestras, e ainda hoje, Luana busca levar suas histórias objetivando propagar a esperança e a fé, sem as quais ninguém pode ser feliz.
Acredita Luana, que toda semente boa plantada produz bons frutos, mesmo que essa semente demore a germinar, pois fazer o bem, mesmo que às vezes, sob lágrimas, sempre traz gratificação indescritível, que dinheiro nenhum no mundo pode pagar.