segunda-feira, 4 de janeiro de 2010



A MELODIA DE UM POEMA


Por Prescila Alves Pereira
Autora do livro “RETRATOS DE UMA VIDA” e participação em diversas coletâneas.

(ministro palestra sobre o tema - contato: prescilaalvespereira@msn.com)

a) DECLAMAR: sinônimo de cantar

Declamar é quase sinônimo de cantar. Porque para declamar, é necessário dar a entonação correta a cada palavra escrita no poema. Para declamar, é necessário interpretar com a voz, dar significado amplo e significativo para cada palavra, cada frase do poema. Assim sendo, ter uma perfeita dicção é importante. Para declamar, é importante escolher um fundo musical que tenha harmonia com o poema a ser declamado. Por exemplo, se o poema é romântico, a música de fundo DEVE ser romântica. Se o poema é auto instrutivo, a música deve também possuir conteúdo auto instrutivo, e assim sucessivamente.
Ao cantarmos uma música, alteramos a voz várias e várias vezes, de acordo com o significado da palavra. Assim também deve ser ao declamarmos um poema. Deve haver alteração do tom de voz quantas vezes forem necessárias. A diferença é mínima. Ao cantarmos, a voz é mais rápida. Ao declamarmos, a voz deve ser mais pausada.

b) DECLAMAR: sinônimo de representar

Para declamar um poema de forma expressiva e significativa aos que assistem a declamação, é NECESSÁRIO dar uma interpretação que atraia a atenção daqueles que assistem a declamação. Por esse motivo, declamar também é sinônimo de representar.
Imagine a seguinte situação: uma pessoa vai até o microfone e fala o poema sem sair do lugar, apenas fala, sem fundo musical, sem entonação na voz, fala como se estivesse lendo um texto qualquer. Qual o atrativo nisso? Nenhum.
Imagine outra situação totalmente oposta a anterior: uma pessoa sai do lugar onde estava sentada, de forma teatral, pega o microfone na mão, cita o título do poema e autor do poema. Uma música começa a tocar leve e suave. A pessoa aumenta o tom da voz, caminha pelo palco, corre, agacha, chora, sorri, avança para os ouvintes da platéia, envolve-os, vivencia o poema, dá vida ao poema. Qual o atrativo? Todo.
A diferença é grande. Na primeira situação, não houve interpretação, não houve vida, não houve envolvimento. Não houve compromisso com a platéia. Assim, é uma coisa maçante, com quase nenhum significado.
Na segunda situação, houve musicalização das palavras. Houve interpretação ampla e profunda do texto. Houve teatro. O ator deu vida ao poema. O autor envolveu a platéia. O autor transportou a platéia para o mundo descrito no poema. É uma situação maravilhosa, gostosa de ouvir e ver.
“TODO POEMA POSSUI VIDA, SÓ DEPENDE DE QUEM O INTERPRETA.”

c) O TOM ADEQUADO À NATUREZA DO TEXTO

Na poesia, a declamação de um texto exige que o recitador se distancie da dicção da linguagem quotidiana e encontre o tom adequado à natureza do texto que está a declamar. Uma coisa é recitar um soneto clássico e outra bem diferente é recitar um poema de Álvaro de Campos, da Prescila Pereira, o que significa que a tipologia do discurso é importante para sua concretização recititiva. Alguns aspectos formais podem também influir na declamação poética: a rima, as pausas, a colocação dos acentos rítmicos, o vocabulário, etc.
A intensidade da leitura recitativa está também intimamente ligada ao timbre de voz do locutor e à sua capacidade de interpretação da expressividade do poema. O excesso de afectação(gestos e entonações) na leitura pode redundar numa recitação artificial ou totalmente inadequada ao texto. A declamação deve ser uma representação sim, mas de forma natural. Assim sendo, quem declama deve escolher um texto o mais próximo possível de seu conteúdo de vida, ou seja, de acordo com suas emoções, suas crenças, a mensagem que quer passar para a platéia, sua linguagem. Escolher um texto muito fora da realidade de quem vai declamar é um erro, porque dificilmente será uma representação natural, mas sim forçada a que tira a beleza de toda a declamação.
O contexto do exercício da declamação pode ainda influir no tipo de intensidade posto na leitura — o público determina sempre um certo grau de ansiedade de influência no declamador, o que é extremamente normal e prazeroso: é a chamada adrenalina. A pessoa que vai declamar deve aprender a usar essa ansiedade em favor de sua representação. Por exemplo, se a pessoa começa a tremer muito, use gestos que não demonstrem essa tremedeira. Se a voz fica muito alta por causa da ansiedade, fique mais afastado do público para não deixar todo mundo surdo, etc.
d) O ESPELHO: um importante aliado

Todo artista sabe a importância de ensaiar seu texto em frente a um espelho, de preferência de corpo inteiro. Se não tiver o de corpo inteiro, ensaie na frente daquele que tiver. Importância essa devido ao reflexo da imagem do declamador, refletindo os acerto e os erros, o que possibilita um aperfeiçoamento maior dos gestos.
Ensaiando na frente do espelho, pode se corrigir as falhas. Pode se aperfeiçoar os gestos, dar mais vida e significado ao poema.
e) A IMPORTÂNCIA DE GRAVAR

Outro aliado importante para quem gosta de declamar poemas é o gravador. Gravando sua voz ao ensaiar, pode-se corrigir os tons de voz, verificar onde dar maior entonação, onde suavizar mais a voz.
Ao dar tons para a voz, é importante jamais esquecer que há um tom correto para cada tipo de texto. Por exemplo: um texto dramático requer drama na voz; já um texto romântico requer uma voz doce e suave. Um texto que tem como objetivo influenciar, implantar uma idéia, requer determinação, decisão e segurança na voz.
É importante também o ator que declama, criar uma característica só sua, uma característica que o identifique. Não precisa copiar ninguém, apenas criar em cima daquilo que lhe apraz. É isso que faz toda a diferença.

“TODA IDÉIA TRANSMITIDA REQUER AMOR E MUITA RESPONSABILIDADE.”

Nenhum comentário: